sábado, 25 de julho de 2009

Nossos Leitores

Nossos leitores têm elevado bastante o debate neste espaço. Além do texto do nosso amigo William que foi republicado logo abaixo, recebemos um interessante comentário da nossa companheira de curso Juliana Fagundes.

Neste comentário, Juliana fala da “crise do aparelho universitário brasileiro” e sua “derrocada”. Quando tratamos destes assuntos, precisamos pensar na função social e na lógica que as universidades (principalmente as privadas) adquiriram recentemente.

Hoje as Unis disputam alunos no mercado da mesma forma que as redes de supermercado disputam consumidores. Podemos ler desde slogans de propaganda: “Quem escolhe o mercado, escolhe Metodista” ou até uma outra Uni que oferece um telefone celular para o calouro.

O ensino universitário no chamado mundo contemporâneo adquiriu as feições de mera formação técnica ou específica para o mercado ou o mundo do trabalho. A formação educacional, cultural e universal de extensão do conhecimento que faz parte da tradição universitária ficou para segundo plano, o que importa agora é o diploma na mão ao melhor custo-benefício.

Por meio desta lógica podemos entender quando nossa leitora fala da “estrutura educacional subordinada aos objetivos econômicos para o crescimento do país”. É claro que o país precisa de um maior contingente de mão-de-obra qualificada para seu desenvolvimento econômico, porém apenas isso não basta, o desenvolvimento cultural no seu conjunto também se faz necessário e isso também é função da universidade.

Dentro deste contexto, nossa leitora pergunta: “Qual é a sua postura como estudante de Filosofia?” Essa indagação vem ao encontro do espírito deste espaço ao questionar o posicionamento individual e coletivo do estudante de Filosofia, pois não estamos no interior de mais um curso de formação técnica para o mercado, mas de uma disciplina de pensamento que pensa as demais e a si mesma. E essa indagação ganha maior relevância quando a Metodisney (vamos chamá-la assim toda vez que não formos levados a sério) resolveu se tornar mais uma Uni-mercado e o curso de Filosofia, como as demais licenciaturas, sofreram cortes na grade-curricular e adotou o ensino modular, ou seja, pacote: pague 1 e leve 2. (O ensino a distância é outra phiada que vamos tratar aqui futuramente).

De modo distinto ao discurso de nossa leitora, não acreditamos que esta deformação em Filosofia nos fará “a-políticos” ou “técnicos”, porque pensamos que o processo de politização é particular e não curricular e que para nos tornarmos “técnicos” em Filosofia teríamos que melhorar MUITO nossa formação.

E o curso de Filosofia até como “auto-prazer” ou “auto-realização” está deficitário por conta da estrutura modular em 3 anos. Pedagogos, coordenadores, diretores, reitores, professores, demagogos em geral, podem até defender uma ilusória “interdisciplinaridade”, mas sabemos que a formação em Filosofia é extensa e profunda, pois tratamos de um campo do pensamento que carrega consigo mais ou menos 25 séculos de existência, variadas correntes e inúmeros pensadores, não precisamos ser matemáticos para saber que a conta não fecha em 3 anos.

Desta forma, não podemos mais falar em formação filosófica, mas em deformação filosófica, já que vamos sair da graduação com um conteúdo deficitário. E isso é insuficiente tanto para lecionar quanto para se realizar pessoalmente. Mais do que uma lista de autores que conhecemos, vamos sair com uma lista de autores que não conhecemos.

Diante desse quadro que a cada dia se torna cada vez mais negro cabe a você caríssimo leitor, caríssima leitora, escrever seu próprio destino.
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Comentário da Juliana:

A crise do aparelho universitário brasileiro está em derrocada. Tanto nas universidades publicas e particulares tratam progressivamente de uma estrutura educacional subordinada aos objetivos econômicos para o crescimento do país.
As propagandas para formação superior estão cada vez mais em disputa por clientela que refletem o atendimento das necessidades das empresas capitalista (mão-de-obra especializada). Qual é a sua postura como estudantes de Filosofia? Um curso que nos ultimos anos traduz esse projeto tecnicista de mão-de-obra. Lembrando que o curso a distância, modular e a redução da carga horária representam uma era de formação "a-política" e tecnicista sim, estamos saindo técnicos em filosofia.
Talvez
esteja no curso por auto-prazer, sem compromisso com ensino de educação. Mas, quanto a você colega que pretende fazer parte da cátedra vitalícia de professores, desabotoe seu cérebro, experimente lutar pelo certo, por uma educação que emerge a consciência crítica.
Colega, você passou quatro anos ou três anos no curso para sair com a mente dizimada? Santo Zeus, o que aguardará os nossos futuros alunos, Filophiada?

2 comentários:

  1. como se isso ´so não bastasse,caros amigos,as nossas universidades estão tercerisando todos os cursos,principalmente quando se trata nos cursos a distancia ,tornando-os orriveis,quando abordei um aluno que faz um certo curso a distancia ,questionei sobre o tal,as matérias esse não soube responder nada ,fiquei orrorizado .bem estou frustrado .

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